Os piratas do rio Madeira (Caiari)
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Escrito por Mário Ypiranga Monteiro.
Não foram só os índios Arara e Muhra que deram trabalho aos portugueses nos alvores da colonização do Brasil ocidental. Um dos primeiros incidentes ocorridos e que passaram à história foi o ataque à expedição do capitão de infantaria com assento de engenheiro, Ricardo Franco de Almeida Serra, em 1778, quando este viajava para Mato Grosso. Não nos move aqui um destaque de surpresas contra tropas de resgate e outros entreveros fluviais. O fato é mais proclive para o lado da pirataria organizada, em que se salientaram aqueles índios e comparsas mamelucos, e até brancos de nação, forasteiros entrados na Amazônia sem documentos, os “cavalheiros de indústria” franceses, neerlandeses, ingleses, espanhóis e outros.
Muita coisa ficou obscurecida na crônica do período que vai do século XVI até cerca de 1915 do século XX! Deste último período só se sabe do exercício da pirataria em rios da região pelas notícias na imprensa diária. E não foram poucas, a partir da foz do rio da Madeira ao Guaporé.
Dois rios foram teatro de aventuras desse jaez: o Madeira e o Purus, neste menos comum porém mais audacioso, pois incluía como vítimas navios a vapor!
De uma crônica da autoria do senhor Alexandre Ramos, talvez não publicada em periódicos de Manaus no primeiro quartel do século XIX, sabemos ser a base naval dos piratas do Rio da Madeira na laguna Jatuarana. Dali partiam as embarcações equipadas com “índios de flecha” para as incursões contra aldeiolas e regatões ou outros tipos de canoas. Felizes daqueles que saíam vivos das emboscadas e das abordagens. Geralmente os flibusteiros de água doce não davam quartel a quem reagia com armas iguais ou de fogo. Principalmente os que portavam armas de fogo, que eram pilhadas com o resto da mercadoria, fardos de panos, instrumentos agrícolas, arrobas de peixe e de borracha, remédios, cosméticos, agulhas, tesouras, alfinetes, rendas, pentes, penicos, vasilhame de cozinha, toda aquela quinquilharia que os armarinhos fluviais carregam para vender e/ou trocar com os índios e cabocos. Dizia-se ser a base comandada por um indivíduo de nome Jacques, sem origem definida. Anos depois o frade missionário Lucciani diria tratar-se de um foragido do presídio de La Paz, cuja identidade seguia indecisa se suíço ou neerlandês. Quando uma expedição militar a mandado do governador Joaquim Vitório da Costa (capitão-de-mar-e-guerra, português) tentou uma sortida contra eles, na própria base, não foi encontrado o tal capitão Jacques, que ou fugira ou morrera afogado, contanto que seu corpo não apareceu. Não foi esta certamente a única oportunidade que a Comarca do Rio Negro teve de solucionar o problema, pois que os piratas foram combatidos longe da base, e a sua audácia chegou a interceptar canoas defronte da cidade de Borba-a-Nova, antiga aldeia Araretama. Em nenhuma dessas ocasiões foi notada a presença do tal capitão Jacques. Ele deveria ficar bem acomodado em sua barraca na laguna, a salvo da artilharia dos soldados portugueses.
Como dissemos, a pirataria não acabou logo, alcançando a primeira metade do século XX. Podem ler-se notícias no Jornal do Comércio daquele período.
Fonte:Biblioteca do Amazonas